sexta-feira, 7 de abril de 2017

O destino...


criei e na medida do possível vou sustentando este meu "receberedar", essencialmente para minha exposição fotográfica própria. Até porque como se costuma dizer: “uma imagem vale mais que mil palavras!”. Salvo que regra geral e tanto mais se como ultimamente em que tenho escrito em absoluto mais do que fotografado, de resto a imagem acima foi mais uma resgatada do meu arquivo fotográfico, dado que há um significativo tempo que não fotografo de todo ou pelo menos pró publicável aqui. Além ainda de que se as imagens, no caso, fotográficas valem ou devem valer por si sós, no entanto em determinadas circunstâncias ficam melhor acompanhadas/complementadas por algumas palavras ditas ou como no presente e contínuo caso escritas:

            ...na primeira pessoa

            Comecei a gostar de fotografia ou melhor a sentir curiosidade fotográfica, a partir do meu contexto sociocultural, familiar e existencial original, que curiosamente não tinha em absoluto que ver com fotografia, muito menos do ponto de vista prático. Sequência de que também ainda a partir da minha própria inocência e ingenuidade infantil, logo que vi a primeira foto e/ou sempre que enquanto infantil via uma foto eu não processava propriamente aquilo como estando a ver uma foto, mas sim pelo maior ou menor fascínio que me suscitava o conteúdo dessa mesma foto. Seja que voltando ao início da minha curiosidade fotográfica, esta processou-se numa base e numa sequência que dalgum modo é uma história em si mesma, cujos semi-objectivos e subjectivos contornos podem ser mais ou menos extensiva e complexamente descritíveis consoante a mais ou menos factual ou concepcional abordagem aos mesmos, mas que em qualquer caso não cabem descritivamente no presente contexto, ao menos em toda a sua extensão ou para além do indispensável a contextualizar aqui à minha curiosidade fotográfica original, em especial quando há altura nada o faria prever em absoluto, tendo precisamente por base a minha subjacente origem sociocultural, familiar e existencial rural, provinciana e de rudimentar subsistência básica _ o que refira-se não impedia a felicidade, se acaso e em certa simplista ou ingénua medida até bem pelo contrário!

            De entre o que o facto é que por uma circunstancial excepcionalidade acabei por ter acesso a umas imagens fotográficas numas revistas de moda que a minha mãe, costureira, possui-a por haver adquirido numa sua derivação urbana pré minha própria existência. A partir de que tanto mais se enquanto em minha plena inocência e ingenuidade infantil, em que da vida eu conhecia pouco mais que a pequena e austera casa dos meus pais e/ou dos meus avós, quiçá associando ainda isso a alguma minha característica meramente pessoal, o também facto é que cheguei a confundir a realidade da vida com o conteúdo das fotos que via naquelas revistas, tendo inclusive chegado a sentir-me frustrado por sempre e quando a realidade da vida (real) próxima de mim, na respectiva medida em que eu a ia descobrindo, não correspondesse ao conteúdo das fotos em causa, que enquanto tais e numa primeira instância, até por falta de alternativas, eu cheguei a ter como um dado adquirido e/ou como uma verdade absoluta, em que chegava a perder-me ou quiçá a encontrar-me duma hipnoticamente prazenteira forma _ porque a isso se prestavam os conteúdos humanos e naturais daquelas fotos. De resto, numa subsequente reflexão existencialista, comecei posteriormente a crer que a minha noção de beleza humana e natural ficou indelevelmente marcada, também, pelos estereótipos humanos e naturais contidos naquelas fotos, ainda que isso depois tão pouco implicasse necessariamente com as concretas pessoas e/ou com os lugares por que/m fui tendo a oportunidade de me apaixonar, em directa sequência de a/os ter conhecido ou de com e nas mesma/os ter (con)vivido dalguma concreta e interactiva forma. 

           A partir de que então sim, ao ir gradual e continuamente vendo/descobrindo para além doutras múltiplas realidades da vida, também muitas outras e diversas novas fotos, me levava imediatamente a fazer a associação, a comparação e/ou o contraste com aquelas, dalgum modo, agradavelmente hipnóticas fotos a que tive oportuno acesso na minha primeira infância; sequência de que então também já com uma minha crescente curiosidade, quer vital modo geral quer fotográfica em particular, em qualquer dos casos tendencialmente pró objectiva; com ressalva de que ao puro nível fotográfico, por exemplo o acesso a equipamento ou a conhecimento fotográfico, era básica e essencialmente nulo ao nível das minhas origens, com residual excepção a quando por exemplo algum familiar emigrado no nacional contexto urbano interno ou num contexto nacional externo revisitava as origens em férias e trazia alguma máquina fotográfica consigo, ainda assim era por norma equipamento fotográfico descartável, ao meu nível existencial original só visto de anos a anos _ pelo que me sentia atraído tão só pelos flashs e tanto mais se pelas próprias máquinas fotográficas, em qualquer dos casos descartáveis, a partir de que quando quem as possuía as deitasse fora e eu visse também as recolhia e guardava, por si só como uma máquina fotográfica imaginária, num misto de brinquedo que eu geralmente não tinha em absoluto, cujo jogo da lente, da ocular, do corpo da máquina mesmo que muito básico, de concepção em cartão plastificado descartável e já disfuncional, me fascinava por si só e pelo que dai já havia resultado: fotografia. Ainda que e/ou até porque no caso as fotografias feitas por familiares ou conhecidos em férias, mesmo que inicialmente duma forma mais subjectiva do que objectiva, fossem elas mesmas as minhas primeiras referências de comparação quer de técnica quer de conteúdo com aquelas primeiras fotos nas revistas de moda da minha mãe. Dai a minha inicial e crescente curiosidade fotográfica propriamente dita, no sentido em que eu começa a não entender, o que no fundo e na verdade era a diferença técnica, estética e concepcional, de entre em suma a fotografia profissional e a fotografia amadora _ que em alguns casos, na actualidade séc. XXI, essa diferença possa já não ser perceptível e se acaso ser até mesmo confusa ou enganadora, mas que ao tempo da minha infância (inicio dos anos 70 do passado séc. XX) sim que essa diferença era muito significativa modo geral, que em alguns casos e/ou aspectos era mesmo abismal.  

            Mas, sequência de que aqui para o presente contexto, vou dar um significativo salto em frente, para dizer que da minha parte pessoal, só tive oportunidade de adquirir a minha primeira máquina fotográfica, após os meus vinte anos de idade. No caso uma máquina semi-automática, concretamente uma Minolta X300s, dita analógica ou de fotografia química, que me auto ofereci, respectivamente auto concedendo-me a possibilidade de eu mesmo fotografar, a partir duma base em que então e dalgum modo já havia algum significativo tempo (anos) que eu tinha a tentação de adquirir uma máquina fotográfica e a respectiva ambição de aprender o máximo possível sobre fotografia; dai que ao adquirir uma máquina semi-automática, pela vertente automática eu teria sempre ou pelo menos inicialmente a possibilidade de não perder algumas instantâneas, enquanto pela vertente manual eu teria oportunidade de aprender o mais possível sobre o acto de fotografar, desde logo da perspectiva do click fotográfico propriamente dito, com uma respectiva mínima consciência técnica e substancial ou concepcional de e para com esse mesmo click. Ainda que tudo isso, desde sempre, com muitos altos e baixos de entre minha (in)disponibilidade temporal e por vezes até (in)disponibilidade pessoal geral para a fotografia, neste último caso essencialmente por questões existencialistas, no entanto lá fui aprendendo a fotografar apenas em manual, desde logo procurando tirar o máximo partido do triângulo técnico: abertura de diafragma, velocidade de obturação e sensibilidade do filme _ actual sensor digital _ a que dalgum modo se pode adicionar o jogo das distâncias focais. E na respectiva medida em que eu avançava neste processo, a começar logo por entender o funcionamento da própria Minolta X300s, por via do seu próprio manual de funcionamento, a que passei a adicionar a aquisição de livros e de revistas fotográfico/as, desde logo pelo próprio prazer de por si só apreciar fotografia, também ainda e acima de tudo com o grande intuito de aprender a técnica e se acaso a encontrar a minha expressão fotográfica própria, até por subliminar sequência de tudo o que de melhor a fotografia suscitara em mim desde sempre e até então. De resto e curiosamente em toda esta sequência recordo que no inicio da minha própria prática fotográfica, designadamente após aquisição da referida X300s, a minha respectiva grande motivação pró fotográfica da altura (meio dos anos 90 do passado séc XX) era a de captar o contraste entre as minhas origens rurais rapidamente a desaparecer enquanto com base em parâmetros existenciais bastante rudimentares e culturalmente muito próprios em si mesmos, versos os parâmetros cada vez mais mecanizados e culturalmente cosmopolitas em que tudo se estava a transformar. Ainda que a partir daqui tenha de confessar que salvo algumas devidas excepções, de resto e aquém e além de disponibilidade ou indisponibilidade de tempo, acima de tudo e regra geral o que sempre me faltou foi coragem, atrevimento, ousadia, confiança, por si só fé(*) para concretizar a fotografia que, quando e como inspirada ou concepcionalmente eu sentia natural necessidade de fazer, desde logo, de e para mim mesmo; de resto e incluindo no limite o choque de entre o que foram as minhas origens que nada tinham que ver com fotografia e a minha radicalmente diversa curiosidade fotográfica, por norma e ao menos localmente me levava mesmo a sentir vergonha de tão só sair com a máquina fotográfica em riste. O que se associado a alguma minha genérica timidez natural ainda hoje não possa dizer que me sinto propriamente à vontade com uma máquina fotográfica na mão modo geral e pior se no contexto sociocultural subjacente às minhas origens. Sendo que nem a vulgarização da fotografia por via da associação desta aos telefones móveis me ajudou muito, até porque há outros factores mais profundos, como por exemplo que para fazer senão todas, pelo menos algumas das fotografias que sentia e sinto espontânea, impulsiva ou inspirada necessidade, por vezes é necessário quebrar certas regras, como por exemplo as regras de transito, designadamente parando onde legalmente não se deve, mesmo que em alguns casos e/ou circunstancias violar determinadas regras de transito não implique necessária e momentaneamente com a segurança ou sequer com o bem estar de quem quer que seja, no entanto até para ter um ponto de partida minimamente sólido e coerente com relação à vida, também por meu grande princípio existencial próprio, o respectivo peso das minhas origens humildes e até mesmo obedientes, que salvo alguma circunstancial excepção de resto eu jamais consegui transcender positivamente dum modo geral, acabou e acaba por norma esse peso a falar mais alto, levando-me por exemplo a priorizar o respeito pela lei de transito enquanto por suprema imposição externa, em detrimento da foto duma bela paisagem se acaso até banhada por um momento de rara e mágica luz, enquanto por minha necessidade própria. Pelo que não só por isso, mas também dai a minha intermitente presença e/ou errática(**) expressão fotográfica própria, por aqui.

            Salvo que por qualquer força do destino, designadamente incluindo o que e como nós mesmos não controlamos, como por exemplo, no meu caso, os motivos e as razões pelas quais a fotografia teve o efeito que teve em mim desde globalmente sempre, ainda que regra geral eu acredite que o nosso destino escrevemo-lo em grande e substancial medida nós mesmos dia-a-dia. Mas incluindo o que depende e o que não depende de nós mesmos, para concretização do designado destino de cada qual e respectivamente de todos, também mais uma vez, no meu caso, com relação à fotografia e concretamente ao essencial desta última e da minha respectiva expressão própria inerente, tanto mais quando entretanto com o advento da fotografia digital e das respectivas redes sociais virtuais, no seu global conjunto e como sempre com altos e baixos da minha parte, que inclusive neste departamento de altos e baixos, por exemplo na fase de transição entre a fotografia dita analógica/química e a actual fotografia digital, ainda que não necessariamente por essa transição em si mesma, mas de todo o modo a coincidir circunstancialmente com a mesma, eu tenha chegado a estar cerca duma década consecutiva sem fotografar em absoluto; ainda que como a fotografia não deixou de estar dum ou doutro modo presente no meu intimo, também mal tive oportunidade de retomar a prática fotografia, por volta de 2012, estão já na dimensão digital, também levou a que não muito tempo depois eu tenha começado a expor-me fotograficamente, como no presente caso por via deste meu “receberedar.blogspot.com”, apesar de todas as intermitências temporais e/ou errâncias temáticas inerentes!

            Sequência de que ao menos fotograficamente o meu destino está longe de se cumprir em pleno, como seja que está permanentemente adiado, ao menos, em termos de unilateral expressão fotográfica com expressiva extensão própria dum modo geral; salvo na medida em circunstancial/providencialmente, inclusive como pró vital, sanitária ou subsistente compensação a tudo o mais ou quiçá a tudo o menos, desde logo subjacente à minha curiosidade e respectiva prática fotográfica, mas acima de tudo à minha (in)existência modo geral, acabou por surgir e enquanto tal por também continuamente evoluir acto espontâneo esta minha alternativa forma de expressão e diria mesmo que de existência escrita; o que tão pouco quer dizer que o meu destino, ao menos ou ao mais do ponto de vista expressivo próprio, esteja necessariamente na fotografia, na escrita ou até em ambas no seu conjunto. Agora que até por tudo o que a exemplo dos meus princípios existenciais originais bastante rudimentares, humildes, mesmo obedientes e semi-analfabetos, a que designadamente se adicionou uma minha continua inadaptação própria ao contexto interpessoal, social e curricular escolar, com inadaptada extensão social e existencial modo geral, fazendo em qualquer dos casos com que contra todas as expectativas de partida, ainda assim e/ou dalguma irónica forma também por isso, versos a energia vital que naturalmente flui em mim, em associação ou dissociação ao meu inconformismo próprio inerente; inclusive mesmo sem que eu tenha feito objectivamente o que quer que fosse por isso, no entanto algum circunstancial/providencial dia me trouxe natural e espontaneamente à escrita, numa primeira instância para tão só necessitar sobreviver mais um (in)constante e (im)permanente presente momento, até ao ponto em que mais de duas décadas após ter começado a escrever acto espontâneo, também com as mais de duas respectivas décadas de evolução técnica e discursiva possa então agora afirmar que entretanto a escrita se tornou inclusive a minha maior, melhor quando não mesmo única forma de expressão e até de existência própria _ senão por predestinação ao menos por força das circunstancias. A partir de que, então sim, já seja por via da fotografia como um projecto, uma ideia, uma paixão ou uma mera curiosidade permanentemente adiada em termos de plena, coerente ou contínua concretização prática da minha parte ou já seja por via da escrita que até por tudo o que circunstancialmente me trouxe à mesma e que da mesma deriva para com e sobre mim, a ponto desta se ter tornado desde há muito e até ao presente momento na minha maior, melhor, quando não mesmo única forma de expressão e de existência própria; isto mesmo que a níveis muito diversos e por vezes ou em alguns aspectos mesmo antagónicos de entre a minha expressão fotográfica e a minha expressão escrita, sendo que por exemplo sem fotografar eu até posso passar pelo menos algum significativo tempo, mas sem escrever não, pois que se necessário e no limite perco noites inteiras de sono entre dias de actividades laborais/profissionais de subsistência básica relativamente exigentes, para poder escrever o que necessito ou o que não posso deixar de escrever, no entanto dadas as genéricas ou especificas circunstancias inerentes, quer a fotografia quer a escrita a contribuírem em qualquer dos casos  e enquanto tais, desde logo enquanto minhas formas de expressão própria, para o meu destino, seja lá isso o que quer que seja ou deixe de ser por si só e enquanto aplicado a mim em concreto! 

E agora como conclusão perdoe-se-me a extensa prosa, mas talvez por fatalidade do destino, no meu caso para dizer algo, por pouco que seja, tenho de escrever muito _ restando-me enquanto tal esperar que, até também, para o bem do meu próprio destino, isso/isto não tenha demasiado desperdício!

                                                                                              VB 

(*)... ainda que, mesmo só excepcionalmente, o também facto é que sempre que eu contrarie isso, também por exemplo me costuma levar a visitar lugares e/ou a conhecer pessoas, que não fosse a fotografia à partida eu não conheceria de todo ou pelo menos da mesma perspectiva!

(**)...de resto algo, dalgum modo, pré-anunciado logo na introdução ao blogue e que não tem de ser um erro ou um defeito em si mesmo, tudo depende da gestão que eu faça do mesmo!

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