quarta-feira, 17 de maio de 2017

Progenitor/a coragem III / Progenitor courage III


Dia 17/05/2017

Hoje dia 17, mais uma vez da parte da manhã não tive muita disponibilidade para observação da escassa família de cegonhas que ainda resta, ainda que tenha tido oportunidade de ver por uma boa meia dúzia de vezes a cabeça da cria aparecendo sobre a borda do ninho. Mas também mais uma vez, com interessada ajuda familiar, soube que o/a progenitor/a restante saiu e regressou ao ninho três vezes entre as primeiras horas da manhã e as cerca de treze horas da tarde. A partir de que então eu mesmo já pude começar a fazer observação, sendo que precisamente pouco depois da treze horas tendo eu mesmo já constatado mais um regresso do/a progenitor/a, com a respectiva cria minimamente activa, mesmo por observação à distância dalguma centenas de metros entre nossa casa familiar e o ninho das cegonhas. Pelo que mesmo quando o/progenitor/a voltou a sair algo depois das catorze horas, mantive-me minimamente tranquilo, porque tudo parecia manter-se como nos últimos três ou quatro dias. Dai que entre as quinze e as dezoito horas eu tenha feito uma observação mais esporádica do que tem sido costume. 

Mas a partir de que antes de continuar, permita-se-me fazer a seguinte reflexão: _ quando nós empatizamos com algo ou com alguém, por assim dizer as alegrias e tristezas, os prazeres e dores desse algo ou alguém passam dalgum modo a ser também nossa/os. Por vezes até mais nossa/os enquanto fontes de empatia do que do próprio “objecto” dessa empatia. Pois que por exemplo quando algo de “anormal” acontece com o “objecto” de empatia e nós fontes dessa empatia desconhecemos ou não controlamos o fundamento dessa correspondente “anormalidade”, por norma tendemos logo a pensar o pior, eu não tenho filhos, mas imagino que é algo idêntico ao que natural normal geral se passa dos pais com relação aos filhos. Ou seja que a “anormalidade” em causa, ao final das conclusivas e confirmadas contas, pode até nem ter um fundamento negativo, logo o “objecto” de empatia, pode entretanto não ter sofrido nada de mal, se acaso até bem pelo contrário, mas nós fontes de empatia já sofremos por antecipação e como tal mais que o “objecto” de empatia. Isto para dizer que quando a partir das dezoito horas da tarde, até pró sessão fotográfica do dia à família de cegonhas, me predispôs a uma observação mais aturada e próxima desta últimas, desde logo antes de me dirigir à proximidade do ninho fiz algumas prévias observações a partir de casa e por assim dizer estranhei um pouco não ver a cabeça e não raro mesmo o corpo quase todo da cria sobre a borda do ninho. Até por isso procurei apressar um pouco a minha observação mais de perto. Que por confirmação da primeira foto que fiz já na proximidade do ninho, eram 18:34h quando cheguei junto do mesmo, sendo que durante todo o caminho até ao ninho tive visibilidade para o respectivo e em momento algum vi a cria, sequer a ponta da cabeça da mesma. 



Pelo que logo que cheguei junto do ninho, de imediato fui observar o chão junto do mesmo não fosse a cria a ter caído e como tal eu confirmaria de imediato tal facto. Mas nas proximidades não se via absolutamente nada. Afastei-me então o suficiente para ter visão periférica, assobiei e fiz um pouco de ruído na esperança de que a cria ao ouvir barulho levantasse a cabeça. Mas mais uma vez nada de nada. Aqui mais do nunca neste mesmo dia 17, senti uma espécie de frio percorrer-me as veias e uma espécie de desesperado aperto no peito. Até por recuperação duma questão ortopédica estava necessitar caminhar e havendo uma estrada que no sentido inverso à minha casa e com relação ao ninho é a subir, ainda comecei a caminhar na esperança de que ao ir subindo com relação ao ninho acabasse por ver a cria, ao mesmo tempo que arejava a cabeça. Mas não consegui caminha mais que uma escassa centena de metros, para me decidir voltar atrás e subir à torre da igreja, como de resto cheguei a pensar desde um primeiro momento. Subi, como se caminhando para a confirmação duma fatalidade. Chegado ao topo da estada não hesitei em olhar para o ninho, ainda que houvesse algo a dizer-me que esse olhar seria apenas a confirmar algo que enquanto tal impelia mais a não olhar. Dadas as circunstancias, para minha semi-agradável surpresa, a cria estava mesmo no ninho, mas estranhamente estirada e quase literalmente imóvel, mas dava para constatar que (ainda) tinha vida. 




Mas como estava um pouco mais de vento do que nos últimos dois ou três dias, pró optimistamente, ainda imaginei que a cria se estaria a proteger do mesmo. Só tirei duas fotos a partir da torre e desci de imediato, num misto de alivio por a cria ainda estar viva e à vez de preocupação porque a sua atitude era tudo menos “normal”, face ao activamente lhe era incontornável costume até então. Neste estado de espírito fui então caminhar um pouco, em direcção inversa à de casa, com a intenção de na volta ficar nas proximidades do ninho, já fosse para ver o/o progenitor/a chegar ao ninho caso não chegasse enquanto eu fazia a caminhada. Sendo que quando de regresso da relativamente breve caminhada cheguei de novo às proximidades do ninho, o/a progenitor/a ainda não havia chegado, nem a cria se continuava a ver sobre a borda do mesmo, salvo que durante a caminhada por uma estrada que sobe com relação ao ninho, já no regresso dessa mesma caminhada e enquanto de frente para o ninho ainda cheguei a vislumbrar duas outras vezes um ponto branco, a pressupor o topo da cabeça da cria. Mas durante cerca duma hora consecutiva nas proximidades do ninho, com visão periférica para o mesmo e comigo em observação permanente, só por duas vezes vi a cabeça da cria minimamente levantada sobre a borda do ninho e uma dessas vezes ainda lhe consegui ver o bico aberto, mais uma vez em sinal de fadiga e eventual desnutrição devido ao calor. 



De resto e ao absoluto inverso ao que é normal, não se vislumbrava mais movimento algum. Nada daquilo me agradava, mas mais uma vez pró optimistamente eu queria acreditar que se devia ao vento um pouco mais forte do que nos últimos dias. Isto até que finalmente cerca duma hora após eu ter chegado junto do ninho pela primeira vez, chegou o/a progenitor/a, que até pela minha esporádica observação do dia, não sabendo eu objectivamente quando o/a mesmo/a havia saído a última vez do ninho, no entanto pela média que anda entre as duas e as quase quatro horas de ausência, seguramente devem ter sido no mínimo duas horas consecutivas. E ao contrário do que eu já vira a cria fazer anteriormente desta vez a mesma só se apercebeu da presença do/a progenitor/a quando este/a pousou no ninho. Reparei que a cria levantou a cabeça duas ou três vezes e mas não tão vigorosamente quanto costume, até que o/a progenitor/a começou a regurgitar o que lhe trouxera para comer, nesse momento os bicos das duas aves encontraram-se num misto de abaixamento por parte do/a progenitor/a e de levantamento por parte da cria, mas mais uma vez e agora de forma reconfirmadamente estranha a cria baixou de novo a cabeça, o/a progenitora regurgitou a maior parte da comida já não para o bico da cria, mas pareceu que para o fundo do ninho. 



Durante vários minutos não se voltou a ver qualquer movimento por parte da cria, enquanto o/a progenitor/a observava em volta e olhava para baixo, para a cria, mas sem que voltasse a haver interacção entre as aves. Fiz alguma fotos de todo este processo e só não filmei porque não tinha tripé. Mantive assim em, por assim dizer, angustiante observação durante cerca de meia hora e quando estava quase a desistir, inclusive já havia guardado a máquina fotográfica no saco, quando eis que a cria volta a mostrar um pouco da cabeça, reparei que caminhou um pouco lateralmente em direcção a/o progenitor/a, mas em vez de levantar, voltou a baixar de novo a cabeça, mas com a parte de trás do corpo algo erguida, bateu três ou quatro vezes as assas, ainda voltei a retirar a maquina do saco com esperança de que tudo se animasse, mas a cria voltou a mergulhar para durante mais uma série de minutos, perdão para definitivamente enquanto eu estive por perto não se voltar a ver. Finalmente senti que pouco ou nada mais fazia ali, preferindo retirar-me com um crescente sentimento de resignação por algo que tudo indicava não era vitalmente bom. Durante todo o caminho de regresso a casa, fui sistematicamente olhando para trás, na esperança de que algo se alterasse positivamente para as aves e para a cria em concreto, mesmo que e/ou até por com meu prejuízo fotográfico, que no fundo é em honra desta família de cegonhas e no caso concreto do/a progenitor/a e respectiva cria que (ainda) restam. De resto e apesar de tudo aproveitei para ir fazendo fotos do ninho e do/a progenitor/a sobre o mesmo, mas no caso já mais como uma espécie de definitiva despedida do que como um alegre até já ou até depois. Tudo isto com uma curiosidade, que é o facto deste/a progenitor/a estar habituado à presença humana, pois por si só tem o ninho mesmo junto à igreja local onde recorrentemente por celebrações religiosas e/ou por si só funerais acorre muita gente, sem que a ave se mostre perturbada. De resto o funcionário da Junta de Freguesia local que diariamente vai abrir e fechar a porta do cemitério passa mesmo por baixo no ninho se que isso afecte em absoluto o/a progenitor/a em causa. Além de quem todas as minhas prévias idas aquele local, para por si só fotografar as cegonhas, muitas vezes aproximando-me isso sim cautelosamente do ninho e mas com a máquina fotográfica em riste, sem que jamais o/a progenitor/a em causa demonstrasse incomodo. No entanto hoje, mesmo que comigo sentado nos bancos junto ao cemitério, como seja um pouco mais distante do que o costume, até porque por vezes levo o carro ficando mais próximo do ninho, mas estranhamente hoje o/a progenitor/a parecia olhar na minha direcção muito mais que o costumado e mais uma vez literalmente a invés do costume, quando me levantei para me vir embora, mesmo sem ir para o lado do ninho, o/a progenitor/a olhando para mim esticou-se, mudou de posição como que numa espécie de alerta que não lhe é comum. Nesse caso e respectivo momento senti-me olhado como a ameaça e/ou a fonte de todas as desgraças da sua família. O que se não fui nem sou pessoalmente, estou no entanto mais de 99% em crer que posso ter sido humanamente. Já posteriormente a partir de casa, cheguei a vislumbrar duas ou três vezes a cabaça da cria sobre a borda do ninho, mas de todo não tão activa e nem tão elevada como costume. Pois que de resto e até anoitecer, quando dei inicio ao presente apenas o/a progenitor/a se via sobre o ninho, mais uma vez ao contrário do que é comum. Seja que lamentavelmente não se pressagia nada de bom para o dia de amanhã dezoito. Mas cá estarei para o confirmar ou gostaria eu que não! Entretanto as fotos, por assim dizer, mais significativas do dia, incluindo as anteriores são também as seguintes(*):  





(*) Peço perdão, mas para fazer a presente publicação ainda no dia de hoje dezassete (17), tive de atrasar um pouco a partilha das fotos, ao que se adiciona ainda edição do texto para melhor entendimento, sem excluir lentidão na Net.                 

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